Mulheres que fizeram história - Aisha Bint Abu Bakr

A vida de Aisha (RAA) é a prova de que uma mulher pode ser bem mais instruída do que os homens, e pode ainda ser a mestra de pensadores e sábios. Sua vida também é a prova de que uma mulher pode exercer influência sobre homens e mulheres, e proporcionar-lhes inspiração e liderança. Além disso, sua vida também é uma prova de que uma mesma mulher pode ser totalmente feminina e fonte de prazer, alegria e conforto para seu marido.

Ela não se formou por qualquer universidade. Na sua época elas não existiam, pelo menos não da forma como conhecemos hoje. Mas suas expressões são estudadas nas faculdades de literatura, seus pronunciamentos legais são estudados nas faculdades de direito, e sua vida e trabalhos são estudados e pesquisados por professores e alunos de história muçulmana da forma como aconteceram, há mais de 1000 anos.

Esse vasto tesouro de conhecimentos foi obtido quando ela era ainda muito jovem. Ela foi criada por seu pai, que era muito querido e respeitado por ser um homem de grande conhecimento, maneiras gentis e presença agradável. Além do mais, ele foi o amigo mais próximo do nobre profeta, que era um frequentador assíduo de sua casa desde os primeiros dias de sua missão.

Na juventude, já conhecida por sua beleza impressionante e sua formidável memória, ela chamou a atenção do profeta. Como sua esposa e companheira chegada, ela adquiriu dele conhecimento e compreensão tais como nenhuma outra mulher jamais teve.

Aisha (RAA) se tornou esposa do profeta em Meca, mas o casamento só foi consumado no segundo ano da Hégira. Nessa época a idade das pessoas era calculada pela aparência, por aproximação, pois não havia registro de datas de nascimento. Devido a isso, e também às diferenças entre o calendário árabe pré-islâmico e islâmico, os historiadores divergiram quanto à idade de Aisha (RAA) na época de seu casamento, mas o fato é que ela já havia ultrapassado a puberdade (maioridade no Islam), sendo o mais provável que ela tivesse entre 15 e 18 anos. Antes e depois de seu casamento, ela manteve sua jovialidade e inocência naturais, e não parecia nada intimidada com o fato de estar casada com Muhammad (SAWS), o Mensageiro de Deus, a quem todos os companheiros, incluindo seus próprios pais, tratavam com o máximo de amor e reverência.

O início da vida de Aisha (RAA) em Medina teve seus momentos críticos e de apreensão. Certa vez, seu pai e dois companheiros que estavam com ele ficaram doentes, com uma febre perigosa, o que era comum em Medina em certas estações do ano. Em uma manhã, Aisha (RAA) foi visitá-lo e ficou consternada ao encontrar os três homens deitados, completamente fracos e exaustos. Ela perguntou a seu pai como estava passando, e ele lhe respondeu com um versículo, mas ela não entendeu o que ele estava dizendo. Os outros dois também lhe responderam com algumas estrofes de um poema, que lhe pareceu mais um murmúrio sem sentido do que qualquer outra coisa. Ela ficou tão profundamente preocupada que foi procurar o profeta, dizendo:

“Eles estão delirando, fora de si, por causa da febre alta”. O profeta lhe perguntou o que eles haviam dito, e ficou de alguma forma tranquilo quando ela repetiu quase que palavra por palavra das estrofes que eles haviam proferido, e que faziam sentido, muito embora ela não os compreendesse muito bem. Esta foi uma demonstração da grande capacidade de retenção de sua memória, que com o passar dos anos foi de inestimável valor para preservar os inúmeros ditos do profeta.

Das esposas do profeta em Medina, está claro que Aisha (RAA) foi a que ele mais amou. De tempos em tempos, um ou outro de seus companheiros lhe perguntava:

“Ó Mensageiro de Deus, a quem você mais ama neste mundo?”. Nem sempre ele dava a mesma resposta para esta pergunta, porque ele sentia grande amor por muitas de suas filhas e netos, por Abu Bakr(RAA), por Ali (RAA), Zayd (RAA) e seu filho Usamah (RAA). Mas, de suas esposas, a única que ele citava era Aisha (RAA). Ela também o amou demais, e muitas vezes buscou nele a certeza de seu amor por ela. Uma vez ela lhe perguntou: “Como é seu amor por mim?”. “Como o nó da corda”, ele respondeu, querendo com isso dizer que era forte e seguro. De tempos em tempos, Aisha (RAA) perguntava-lhe: “Como vai o nó?”, e ele respondia “do mesmo jeito”.FIM PÁGINA 1

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Como ela amava muito o profeta, sentia ciúmes e não suportava que as atenções dele se voltassem para as outras mais do que lhe parecia suficiente. Ela lhe perguntou: “Ó Mensageiro de Deus, diga-me, se você estivesse entre duas vertentes de um vale, e uma delas não tivesse sido roçada e outra sim, para qual delas você levaria seus rebanhos?”. “Para aquele que não tivesse sido roçado”, ele respondeu. “Mesmo assim”, ela disse, “eu não sou como as suas outras esposas. Todas tiveram um marido antes de você, menos eu”. O profeta sorriu e não disse nada. De seu ciúme, Aisha (RAA) diria anos mais tarde:

“Jamais tive ciúmes de qualquer das esposas do profeta como eu tive de Khadija, porque constantemente ele falava nela e porque Deus lhe havia ordenado comunicar a ela a boa nova de uma mansão de pedras preciosas no Paraíso. E sempre que ele sacrificava um carneiro ele mandava uma boa parte para aqueles que haviam sido seus amigos íntimos. Muitas vezes eu disse a ele: “É como se nunca tivesse havido outra mulher no mundo além de Khadija.”

Uma vez, quando Aisha (RAA) se queixou e perguntou por que ele falava tanto de “uma velha coraixita”, o profeta se ofendeu e disse: “Ela foi a esposa que acreditou em mim quando os outros me rejeitaram. Quando as pessoas me chamaram de mentiroso, ela confirmou minha sinceridade. Quando fui abandonado, ela gastou de sua fortuna para aliviar o peso de minha tristeza…”.

Apesar de seus sentimentos de ciúme, que não eram de forma alguma destrutivos, Aisha (RAA) era realmente uma alma generosa e paciente. Ela suportou, juntamente com a família do profeta, pobreza e fome que, muitas vezes, duravam longos períodos. Vários dias se passavam sem que o fogo fosse aceso para cozinhar ou assar pão, e eles viviam apenas de tâmaras e água. A pobreza não lhe provocou tristeza ou humilhação, e não corrompeu seu estilo de vida.

Uma vez o profeta ficou afastado de suas esposas por um mês, porque elas o haviam aborrecido, exigindo dele o que não tinha. Este fato aconteceu após a expedição de Khaybar, quando um aumento das riquezas despertou a cobiça dos muçulmanos. Retornando de retiro autoimposto, ele foi primeiro à casa de Aisha (RAA). Ela ficou muito contente em vê-lo, mas ele lhe disse que havia recebido uma revelação, na qual lhe era pedido que colocasse para ela duas opções. E ele recitou os versículos:

“Ó profeta! Diga a suas esposas: ‘Se você desejar a vida deste mundo com todos os seus adornos, então venha e Eu concederei esses bens sobre você e a libertarei. Mas, se você preferir Deus e Seu Mensageiro e a morada no Paraíso, então Deus guardou uma imensa recompensa por isso, porque você escolheu o melhor”.

A resposta de Aisha (RAA) foi:

“Na verdade, eu escolho Deus e Seu Mensageiro e a morada no céu”, e sua resposta foi seguida por todas as outras esposas.

Ela manteve sua escolha tanto durante a vida do profeta como depois. Em uma ocasião, os muçulmanos foram favorecidos com enormes riquezas, e lhe deram de presente 100.000 dihams. Ela estava jejuando quando recebeu o dinheiro, e distribuiu toda a quantia entre os pobres e necessitados, muito embora em sua casa não houvesse qualquer provisão. Um pouco depois, uma serva lhe disse: “Você não poderia ter comprado carne com 1 dirham e assim quebrado o jejum?”. E ela respondeu: “Eu poderia ter feito isso, mas não me lembrei”.

A afeição do profeta por Aisha (RAA) permaneceu até o fim. Durante sua doença, foi na casa de Aisha (RAA) que ele ficou, por sugestão das outras esposas. Lá ele ficava muito tempo deitado num sofá, com a cabeça descansando em seu colo. Foi ela quem pegou uma escova de dentes de seu irmão, mordeu cuidadosamente e a deu para o profeta. Apesar de sua fraqueza, ele escovou os dentes com bastante vigor. Um pouco mais tarde, ele perdeu a consciência e Aisha (RAA) achou que ele estava morrendo. Mas, após uma hora, ele abriu os olhos.

Foi Aisha (RAA) quem preservou para nós estes últimos momentos de nosso amado mensageiro. Quando ele abriu seus olhos de novo, Aisha (RAA) lembrou-se de Íris ter dito a ela: “Nenhum profeta é levado pela morte até que lhe tenha sido mostrado seu lugar no Paraíso, e então ele escolha entre viver ou morrer”.

“Ele não nos escolherá”, ela disse para si mesma. Então, ela o ouviu murmurar: “Com a comunhão suprema no Paraíso, com aqueles a quem Deus derramou seus favores, os profetas, os mártires e os justos…”. De novo ela o ouviu murmurar: “Ó Senhor, em comunhão suprema”. E estas foram as últimas palavras que ela ouviu ele dizer. Aos poucos, sua cabeça foi ficando mais pesada sobre seu peito, até que os outros na sala começaram a lamentar e Aisha (RAA) deitou sua cabeça sobre um travesseiro e se juntou aos lamentos.

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No chão do cômodo de Aisha (RAA), próximo ao sofá onde ele estava deitado, foi aberta uma cova na qual o último dos profetas foi enterrado, em meio a muita tristeza e grande dor.

Aisha (RAA) ainda viveu quase 50 anos depois da morte do profeta. Ela foi sua esposa por cerca de dez anos. Muito desse tempo ela passou estudando e adquirindo conhecimento das duas mais importantes fontes da orientação de Deus: o Alcorão e a Sunna de Seu profeta. Aisha (RAA) foi uma das três esposas do profeta – as outras foram Hafsah (RAA) e Umm Salamah (RAA) – a memorizar a Revelação. Assim como Hafsah (RAA), ela tinha seu próprio exemplar do Alcorão, compilado depois que o profeta morreu.

Segundo os ahadith (relatos confirmados por fontes confiáveis de ditos e episódios da vida do profeta), Aisha (RAA) foi uma das quatro pessoas – as outras foram Abu Hurayrah (RAA), Abdullah ibn Umar(RAA) e Anas ibn Malik (RAA) – a transmitir mais de 2000 ditos. Muitos deles se referem a aspectos íntimos do comportamento pessoal do profeta, que somente uma pessoa que ocupasse a posição que ela ocupou poderia ter legado. O que é mais importante é o fato de que seu conhecimento foi passado sob a forma escrita por pelo menos três pessoas, inclusive seu sobrinho Urwah (RAA), que se tornou um dos maiores pensadores da geração seguinte à dos companheiros.

Muitos dos companheiros do profeta e seus seguidores se beneficiaram do conhecimento de Aisha (RAA). Abu Musa al-Ashari certa vez disse: “Se nós, os companheiros do Mensageiro de Deus, tínhamos alguma dificuldade sobre qualquer assunto, nós perguntávamos à Aisha”.

Seu sobrinho Urwah assegura que ela foi competente não só em fiqh (jurisprudência islâmica), como também na medicina e na poesia. Muitos dos companheiros mais velhos do profeta costumavam procurá-la para pedir orientação a respeito de questões de herança, matéria que exigia grande habilidade matemática. Os pensadores islâmicos a respeitam como uma das primeiras fuqaha, juntamente com pessoas como Omar ibn al-Khatab (RAA), Ali (RAA) e Abdullah ibn Abbas (RAA). Conta-se que o profeta, referindo-se ao seu grande conhecimento sobre o Islam, teria dito: “Aprendam uma parte de sua religião (din) com estahumayra.”

Aisha (RAA) não só possuía um grande conhecimento como teve participação ativa na educação e na reforma social. Como professora, ela tinha um modo claro e persuasivo de falar, e seu poder de oratória foi descrito em termos superlativos por al-Ahnaf, que disse: “Já ouvi discursos de Abu Bakr e Omar, Othman e Ali, mas jamais ouvi algo mais persuasivo e mais bonito da boca de qualquer pessoa do que da boca de Aisha”.

Homens e mulheres vinham de longe para se beneficiarem de seu conhecimento. Diz-se que o número de mulheres era maior do que os homens. Tomou para si o cuidado e a orientação de meninos e meninas, alguns órfãos, a quem ministrava ensinamentos. Sua casa se transformou numa escola e numa academia.

Alguns de seus estudantes foram notáveis. Seu sobrinho Urwah (RAA)se destacou como um grande narrador de hadith. Entre as mulheres que foram suas alunas, está o nome de Umrah bint Abdur Rahman (RAA). Ela é respeitada pelos pensadores islâmicos como uma das mais fiéis narradoras de hadith, e diz-se que ajudava Aisha (RAA) recebendo e respondendo as cartas endereçadas a ela. O exemplo de Aisha (RAA) na promoção da educação, principalmente na educação da mulher muçulmana, deve ser seguido.

Depois de Khadija (a Grande), e de Fátima (a Resplendescente), Aisha (aquela que diz a verdade) é respeitada como a melhor mulher do Islam. Por causa da força de sua personalidade, ela foi uma líder em diversos campos do conhecimento, na sociedade, na política e na guerra. Muitas vezes se arrependeu de seu envolvimento na guerra, mas viveu o bastante para reconquistar a posição de mulher mais respeitada de seu tempo. Ela morreu no ano 58 depois da Hégira, no mês de Ramadan, e quis ser enterrada em Medina, ao lado de outros companheiros do profeta.

E Allah Sabe Melhor.

الله أعلم

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